Eduardo Cunha perdeu o mandato e os direitos políticos, mas não foi abatido e desarmado. Pelo contrário, o que não lhe falta é munição contra os que considera inimigos (PT) e traidores (sua antiga base parlamentar e o governo Temer).
Com 450 votos a favor, 10 contrários e 9 abstenções, a Câmara cassou na noite desta segunda-feira (12) o mandato do deputado federal Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), interrompendo a trajetória política de quase 25 anos daquele
que se celebrizou como o principal algoz de Dilma Rousseff no processo
de impeachment. Com uma carreira construída nas sombras do poder e que
ganhou os holofotes nacionais desde que assumiu a presidência da Câmara,
no ano passado, Cunha, que colecionou inimigos na vida política e ontem
se viu abandonado por praticamente todos os partidos, passará agora a
enfrentar o seu mais temido adversário: o juiz Sérgio Moro, da Justiça
Federal do Paraná. Com a decisão da Câmara, Eduardo Cunha fica
inelegível até 2027.
Se o sistema político que pariu Cunha não for mudado por reformas corajosas, outros Cunha virão. Já o Governo, embora dizendo-se aliviado com o despacho de um aliado que o constrangia com cobranças e ameaças, sabe que novos capítulos ainda serão escritos nesta história. Talvez não no livro que Cunha promete publicar, mas nos anais da Lava Jato.
E ainda tem o bloco de deputados aliados que, de quase 200, minguou para meros 61 (entre votos contra a cassação, abstenções e ausências). Eles foram os grande traidores de Cunha. Foram eles que, em troca de favores inomináveis, e até mesmo do financiamento de suas campanhas eleitorais com doações de Cunha, para quem dinheiro há muitos anos não é problema, pavimentaram sua ascensão. O “centrão” congrega deputados de vários partidos e uma parte da bancada peemedebista, que o elegeu líder do partido na Câmara no primeiro governo Dilma, dando início ao que ela chama de “inclinação do PMDB à direita”. Foram eles que lhe garantiram votos para aprovar projetos e MPs recheadas de penduricalhos negociados com grandes empresas e bancos. Foram eles que o elegeram presidente da Câmara em 2015, dando início à crise na aliança PT-PMDB que, desde Lula, garantia a estabilidade política dos governos petistas. Pelo menos com alguns, os que mais lhe deviam e o traíram, haverá acerto de contas.
O livro, talvez o autor não tenha tempo de escrever, pelo menos em liberdade. É altamente provável que Cunha seja preso e enviado para Curitiba. Ali, mesmo quem sinceramente renega as delações, capitula diante da possibilidade de reduzir as penas. Vide Marcelo Odebrecht. A delação de Cunha será muito mais interessante do que qualquer livro que ele venha a escrever. E aí haverá para todo mundo.
Portanto, devagar com o andor. A cassação de Cunha não representa o fim de suas práticas na política nem a remoção da espada que ele mantém suspensa sobre adversários e ex-aliados. Estes últimos, estando no poder, têm muito mais a perder. O PT já está purgando seus pecados, já pagou o maior preço, que foi a derrubada com violência política. Para os pares do novo reino, que viram na cassação de Cunha um atenuante para o golpe, agora começa um novo capítulo tendo Cunha no papel de bruxo vingador.
Informações Tereza Cruvinel Colunista do Brasil 247
Nenhum comentário: