Em entrevista coletiva concedida no Palácio da Alvorada, ao lado do ex-presidente Lula, de vários ex-ministros e líderes de movimentos sociais, logo após ter sido afastada definitivamente da presidência da República, Dilma Rousseff fez um de seus discursos mais incisivos contra o golpe e contra o governo do presidente interino, Michel Temer.
A decisão do Senado, segundo ela, "entra para a História das grandes injustiças". "Senadores decidiram rasgar a Constituição. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar", afirmou, sobre políticos que "buscam o poder desesperadamente" sem seguir o caminho do "voto direto, como fizemos Lula e eu".
"A história será implacável com eles", declarou, em referência aos artífices do golpe. Ela foi enfática quanto à continuação da luta contra a perda de direitos dos trabalhadores e para "construir um Brasil melhor". "Haverá contra eles a mais determinada oposição que um governo golpista pode sofrer", prometeu Dilma Rousseff.
"Nada poderá nos fazer recuar", assegurou. "Não direi adeus a vocês, tenho certeza que poderei dizer 'até daqui a pouco'", acrescentou. "Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil onde o povo é soberano", prometeu Dilma ainda. "Eu, a partir de agora, lutarei incansavelmente para construir um Brasil melhor", concluiu.
A decisão do Senado, segundo ela, "entra para a História das grandes injustiças". "Senadores decidiram rasgar a Constituição. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar", afirmou, sobre políticos que "buscam o poder desesperadamente" sem seguir o caminho do "voto direto, como fizemos Lula e eu".
"A história será implacável com eles", declarou, em referência aos artífices do golpe. Ela foi enfática quanto à continuação da luta contra a perda de direitos dos trabalhadores e para "construir um Brasil melhor". "Haverá contra eles a mais determinada oposição que um governo golpista pode sofrer", prometeu Dilma Rousseff.
"Nada poderá nos fazer recuar", assegurou. "Não direi adeus a vocês, tenho certeza que poderei dizer 'até daqui a pouco'", acrescentou. "Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil onde o povo é soberano", prometeu Dilma ainda. "Eu, a partir de agora, lutarei incansavelmente para construir um Brasil melhor", concluiu.
Leia a íntegra:
Pronunciamento da presidenta Dilma após aprovação do golpe parlamentar
Ao cumprimentar o ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva, cumprimento todos os senadoras e senadores, deputadas e deputados, presidentes de partido, as lideranças dos movimentos sociais. Mulheres e homens de meu País.
Hoje, o Senado Federal tomou
uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os
senadores que votaram pelo impeachment escolheram rasgar a Constituição
Federal. Decidiram pela interrupção do mandato de uma Presidenta que não
cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram
um golpe parlamentar.
Com a aprovação do meu
afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do
braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas
quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e
Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio
de um golpe de Estado.
É o segundo golpe de estado
que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na
truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era
uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por
meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita
pelo povo.
É uma inequívoca eleição
indireta, em que 61 senadores substituem a vontade expressa por 54,5
milhões de votos. É uma fraude, contra a qual ainda vamos recorrer em
todas as instâncias possíveis.
Causa espanto que a maior
ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações
desenvolvidas e leis criadas a partir de 2003 e aprofundadas em meu
governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados.
O projeto nacional
progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo
interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o
apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do
Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e
do retrocesso social.
Acabam de derrubar a primeira
mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa
constitucional para este impeachment.
Mas o golpe não foi cometido
apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O
golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política
progressista e democrática.
O golpe é contra os
movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em
todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis
trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à
terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de
protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da
população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser
reprimido.
O golpe é contra o povo e
contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é
racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da
violência.
Peço às brasileiras e aos
brasileiros que me ouçam. Falo aos mais de 54 milhões que votaram em mim
em 2014. Falo aos 110 milhões que avalizaram a eleição direta como
forma de escolha dos presidentes.
Falo principalmente aos
brasileiros que, durante meu governo, superaram a miséria, realizaram o
sonho da casa própria, começaram a receber atendimento médico, entraram
na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da Nação,
passando a ter direitos que sempre lhes foram negados.
A descrença e a mágoa que nos atingem em momentos como esse são péssimas conselheiras. Não desistam da luta.
Ouçam bem: eles pensam que
nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá
contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo
golpista pode sofrer.
Quando o Presidente Lula foi
eleito pela primeira vez, em 2003, chegamos ao governo cantando juntos
que ninguém devia ter medo de ser feliz. Por mais de 13 anos, realizamos
com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução
de desigualdades da história de nosso País.
Esta história não acaba
assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado
não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa
jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano.
Espero que saibamos nos unir
em defesa de causas comuns a todos os progressistas, independentemente
de filiação partidária ou posição política. Proponho que lutemos, todos
juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a
extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento
pleno da democracia.
Saio da Presidência como
entrei: sem ter incorrido em qualquer ato ilícito; sem ter traído
qualquer de meus compromissos; com dignidade e carregando no peito o
mesmo amor e admiração pelas brasileiras e brasileiros e a mesma vontade
de continuar lutando pelo Brasil.
Eu vivi a minha verdade. Dei o
melhor de minha capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades. Me
emocionei com o sofrimento humano, me comovi na luta contra a miséria e a
fome, combati a desigualdade.
Travei bons combates. Perdi
alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para
dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A
história será implacável com eles.
Às mulheres brasileiras, que
me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem.
As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma
mulher assumiu a Presidência do Brasil, a machismo e a misoginia
mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à
igualdade de gênero. Nada nos fará recuar.
Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho certeza de que posso dizer “até daqui a pouco”.
Encerro compartilhando com vocês um belíssimo alento do poeta russo Maiakovski:
"Não estamos alegres, é certo,
Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado
As ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las,
Rompê-las ao meio,
Cortando-as como uma quilha corta."
Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado
As ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las,
Rompê-las ao meio,
Cortando-as como uma quilha corta."
Um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que compartilha comigo a crença na democracia e o sonho da justiça.
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