Essa
é da lavra de Newton Macedo Campos, o grande contador de histórias e
estórias da Bahia, fonte em que muitos beberam, incluso Sebastião Nery,
que também conta o fato.
Início
dos anos 40 do século passado, um ladrão invadiu a igreja de Senhor do
Bonfim e roubou as esmolas que os fiéis lá colocavam.
Naquele tempo em que crimes contra o patrimônio eram julgados pelo tribunal do júri.
O Major Cosme de Farias, o pai dos pobres, foi defender o ladrão:
-
Senhores jurados, não houve um crime, houve um milagre. Senhor do
Bonfim, que não precisa de dinheiro, ficou com pena dele ( o réu), com
mulher e filhos em casa com fome, deu o dinheiro dizendo assim: “Meu
filho, este dinheiro não é meu. Eu não preciso de dinheiro. Este
dinheiro foi o povo que trouxe. É do povo com fome. Pode levar o
dinheiro”. E ele levou. Que crime ele cometeu? Se há um criminoso é o
Senhor do Bonfim, que distribuiu o dinheiro da igreja. Então vão
buscá-lo lá e o ponham aqui no banco dos réus.
E
ainda tem mais. Senhor do Bonfim é Deus, não é? Deus pode tudo. Se ele
não quisesse que o acusado levasse o dinheiro, tinha impedido. Se não
impediu, é porque deixou. E se deixou, não há crime.
O réu foi absolvido.
Nota:
Cosme de Farias foi jornalista, deputado, vereador, foi patenteado
major pela guarda nacional. Era um rábula ( não tinha o título de
advogado ). O plenário da câmara municipal de Salvador, desde 1980 tem o
seu nome. Existe escola e até um bairro que também leva seu nome.
Nenhum comentário: