O juiz Narciso Alvarenga Monteiro de Castro disse em coletiva nesta sexta-feira (7) que os médicos presos por envolvimento na "Máfia dos Órgãos" sabiam que o menino Paulo Pavesi, morto aos 10 anos no ano 2000, sabiam que a criança estava viva enquanto retiravam seus órgãos. A entrevista foi concedida no Fórum de Poço de Caldas, em Minas Gerais.
"Eles sabiam que a criança estava viva. Eles retiraram os órgãos do garoto enquanto ele ainda estava vivo. A tese apresentada pela defesa não me convenceu. Eles tinham plena consciência da ilicitude do ato. O único exame de arteriografia feito no Hospital Pedro Sanches e apresentado por eles à Justiça mostra, claramente, que havia circulação de sangue no cérebro do garoto o que comprova que ele não tinha sido morte encefálica", diz o juiz.
O pai do menino Paulo Pavesi, que vive na Europa, disse ao G1 que já esperava pela condenação dos médicos. "Eles sabiam que o Paulinho estava vivo quando retiraram os órgãos. Eles tinham todo o conhecimento da ilegalidade que estava sendo praticada e continuaram fazendo o que fizeram. Eu honestamente não estou sendo informado sobre nada, não sei do que está acontecendo e muito menos qual será o próximo passo. Eu hoje tenho certa maturidade para saber que é mais uma etapa porque tem muito ainda pela frente. Isso pode levar mais uns três anos. Honestamente, eu acho que não é a conclusão", comentou Paulo Airton Pavesi.
Os médicos Cláudio Rogério Carneiro Fernandes e Celso Roberto Frasson Scaffi estão presos no presídio de Poços de Caldas. Os dois foram abordados na noite de quinta-feira em casa. Um terceiro médico, Sérgio Poli Gaspar, está foragido. O advogado dos médicos, José Arthur Di Spirito Kalil, disse que ainda não teve acesso à documentação e não sabe o motivo dos mandados, mas vai recorrer e pedir a liberdade dos clientes.
Entenda o caso:
O menino Paulo Veronesi Pavesi caiu de uma altura de cerca de 10 metros do prédio em que vivia, em Poços de Caldas, em abril de 2000. Ele foi levado à Santa Casa da cidade, onde teve a morte encefálica diagnosticada pela equipe médica. Depois disso, os órgãos foram retirados para serem doados.
A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso depois de uma denúncia de que a morte encefálica foi diagnosticada irregularmente. O inquérito mostrou que quando a morte foi comprovada o menino estava sob efeito de substâncias depressivas do sistema nervoso central. Quatro médicos foram indiciados na época.
Outros seis inquéritos foram abertos depois. A Santa Casa perdeu o credenciamento para fazer transplantes. O caso gerou uma CPI para investigar o tráfico de órgãos e os médicos foram acusados de homicídio doloso qualificado, pois o Ministério Público Federal entendeu que a morte encefálica da criança foi forjada.
(Correio)
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